segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

INDIELÂNDIA

INDIELÂNDIA – I

Quando abordei numa das Memória Sonoras os Scritti Politti, o Do It Yourself (DIY) e o movimento que originou o nascimento de um sem número de editoras independentes, nos finais da década de 70, princípios da década de 80, achei que seria interessante escrever sobre alguns grupos e algumas editoras independentes, sem quaisquer preocupações cronológicas. Assim, este primeiro espaço será dedicado ao grupo Orange Juice e à sua editora Postcard.
A história do grupo teve o seu berço na cidade escocesa de Glasgow, que se baptizou com o nome de Nu-Sonics em 1977, tendo como membros Edwin Collins, Stephen Daly, James Kirk e Alan Duncan que viria a ser substituído por David McClymont quando o grupo se transformou em Orange Juice, em 1979. Os sons dos Doors e dos Velvet Underground influenciaram o design sonoro do grupo que gravaram o seu primeiro 7”, em 1980, para a editora Postcard que, entretanto, fora fundada por Alan Horne, em 1979, na cidade de Glasgow, ano em que os Orange Juice assinaram pela aquela editora.
Discografia dos Orange Juice para a Postcard:
Fevereiro de 1980 – 7” – “Falling and Laughing/Moscow”
Agosto de 1980 - 7” - “Blue Boy/Lovesick”
Dezembro de 1980 – 7” – “Simply Thrilled Honey/Breakfast Time”
Março de 1981 – 7” – “Poor Old Soul/Pt 2”
Julho de 1982 – CD – “Ostrich Churchyard” – Ao vivo em Glasgow
Julho de 1983 – CD – “The Heather´s On Fire” – Contém todos os 7” gravados para Postcard.
Alan Horne afirmava que os sons dos grupos que gravavam para a sua editora, representavam “The Sound of The Young Scotland”, como contraponto ao “The Sound of Young América” da editora Estado Unidense, Tamla Motown.

Jorge Brasil Mesquita


INDIELÂNDIA – II

Depois de ter escrito sobre os escoceses Orange Juice, continuarei na Escócia, mas desta vez, na cidade de Edimburg, onde, em 1979, Paul Haig, Malcolm Ross, David Weddell e Ronnie Torrance formaram os Joseph K, nome extraído do romance “O Processo” do escritor do absurdo, o Checo Franz Kafka (1883 – 1924). No mesmo ano auto-finaciaram o seu primeiro 7” “Romance” que apareceu na editora Absolute, fundada por Stephen Daly dos Orange Juice . Alan Horne entusiasmado pelo som do grupo, levou-os a assinarem contrato com a sua editora Postacard, a mesma editora dos Orange Juice. Sonoramente, os Joseph K sofreram influências dos grupos Estado-Unidenses Television, Talking Heads e Pere Ubu. Paul Haig afirmou: “ler deu-me imensas ideias para escrever letras”; as leituras que influenciaram o grupo, basearam-se nos livros escritos pelo escritor argelino/francês Albert Camus (1913 – 1960), pelo poeta e romancista alemão Hermann Hesse (1877 – 1962), pelo escritor russo Fedor Dostoevsky (1821 – 1881) e, claro, por Kafka. Um dos temas que o grupo escreveu “It´s Kinda Funny” foi dedicado a Ian Curtis (1956 – 1980) do grupo Joy Division.

Discografia dos Joseph K:

Dezembro de 1979 – 7” – Romance/Chance Meeting – Absolute
Agosto de 1980 – 7” – Radio Drill Time/Crazy To Exist (ao vivo) – Postcard
Dezembro de 1980 – 7” – It´s Kinda Funny/Final Request
Fevereiro de 1981 – 7” – Sorry For Laughing/Revelation
Maio de 1981 – 7” – Chance Meeting/Pictures (of Cindy)
Junho de 1981 – LP – The Only Fun In Town

Fevereiro de 1982 – 7” – Missionary/One Angle/Second Angle – Operation Twilight.

Jorge Brasil Mesquita


INDIELÂNDIA – III

Este meu espaço dedicado a bandas ligadas ao movimento DIY e às editoras independentes que se iniciou em finais da década de 70, prossegue ainda na Escócia, em East Kilbride, para ser mais exacto, onde se formou, em 1980, o grupo Aztec Camera pelas mãos do jovem compositor de 15 anos, Roddy Frame e, ainda, por Campbell Owens e Dave Mulholland. A banda, como não poderia deixar de ser, foi contratada por Alan Horne para a sua editora Postcard que, como já referenciei, tinha como objectivo ser “The Sound Of The Young Scotland”. Na sonoridade dos Aztec Camera sobressaíam sons latino jazzísticos, em cujas características acústicas iniciais se notavam voos de fantasias Folk que, mais tarde, se rechearam instrumentalmente, quando, em 1982, assinaram pela editora independente londrina Rough Trade.
Como é habitual referencio a discografia independente do grupo.
Postcard:
Março de 1981 – 7” – Just Like Gold/We Could Send Letters
Julho de 1981 – 7” – Matress of Wire/Look Outside The Tunnel

Rough Trade:
Agosto de 1982 – 7” – Pillar To Post/Queen´s Tatoo
Janeiro de 1983 – 7” – Oblivious/Orchard Girl
Abril de 1983 – LP – High Land, Hard Rain
Maio de 1983 – 7” – Walk On Winter/Set The Killing Free.

Antes de encerrar mais esta viagem sonora, não me coíbo de chamar a atenção para as composições “We Could Send Letters”, primeiro na versão acústica e depois na versão do excelente LP e da riqueza sonora de “Oblivious”.

Oeiras, 10/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita


INDIELÂNDIA – IV

Encerramos este espaço escocês da editora independente Postcard de Alan Horne com a sua quarta contratação, embora esporádica. Tratou-se do grupo australiano Go-Betweens que se formou em Brisbane, Austrália, em 1978, tendo como núcleo central os compositores e instrumentistas, Robert Forster e Grant McLennan, a quem mais tarde se juntaram, Dennis Cantwell e Lindy Morrisson.
Bob Dylan, Velvet Underground, Monkees, Television, Talking Heads e Patti Smith, influenciaram as criações escritas e sonoras dos Go-Betweens.
Quando o grupo assinou pela Postcard, o grupo já havia gravado dois 7” para a editora independente australiana Abel. Após a rápida passagem pela Postcard, o grupo voltou à Austrália onde gravou o seu primeiro LP para a Missing Link que serviu de ponto de partida para serem contratados pela editora londrina Rough Trade.
Eis a discografia independente dos Go-Betweens:

Austrália – Abel
Outubro de 1978 – 7” – Lee Remick/Karen
Outubro de 1979 – 7” – People Say/Don´t Let Him Come Back

Escócia – Postcard
Novembro de 1980 – 7” – I Need Two Heads/Stop Before You Say It

Londres – Rough Trade
Junho de 1982 – LP – Send Me a Lullaby
Julho de 1982 – 7” – Hammer The Hammer/By Chance
Fevereiro de 1983 – 7” – Cattle and Cane/Heaven Says
Setembro de 1983 – LP – Before Hollywood
Outubro de 1983 – 7” – Man O´Sand To Girl O´Sea/This Girl Black Girl

Aconselho vivamente a audição do LP “Send Me a Lullaby” e do 7” “Cattle and Cane”

Oeiras, 16/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita


INDIELÂNDIA – V

Se é certo que no último capítulo destes espaços dedicados a bandas que nasceram e se ligaram a editoras independentes, abandonámos a editora Postcard, a verdade é que continuaremos na Escócia para falarmos de outra banda de Edimburgo, formada, em 1979, por Davey Henderson, Murray Slade, Graham Main e Russel Burn que adoptaram o nome de Fire Engines, nome extraído de uma das faixas do LP “The Psychedelic Sounds of: 13th Floor Elevators” dos 13th Floor Elevators, de 1966. Sonoramente, os Fire Engines beberam as suas influências em Captain Beefheart, no grupo Estado-Unidense, Contortions e nos grupos ingleses Pop Group e Gang of Four.
A banda, nos seus primeiros tempos de vida, não fazia concertos com mais do que 15 minutos porque, segundo o vocalista Davey Hendersen, “que interesse há em manter a audiência enfastiada?!”.
Ao gravarem o seu primeiro 7”, o grupo comentou que “queríamos fazer um “mau” 7” que fosse grandioso e fizémo-lo”: “Get Up and Use Me”. Uma completa anarquia sonora – acrescento eu. Em 1981, os Fire Engines assinaram contrato com Bob Last, outro editor discográfico escocês independente que competia com Alan Horne, primeiro para a Fast Product que se transformou em Pop: Aural. Da discografia do grupo, que enunciarei, como é usual, gosto, particularmente, do tema “Candy Skin”.

Codex Communications:
Dezembro de 1980 – 7” – Get Up and Use Me/Everything´s Roses

Fast Product:
Janeiro de 1981 – LP – Lubrificate Your Room

Pop: Aural:
Maio de 1981 – 7” – Candy Skin/Meat Whiplash
Novembro de 1981 – 7” – Big Gold Dream/Sympathetic Anaesthetic.

Fontes: “Rip It Up and Start Again”, livro de Simon Reynolds e o jornal New Musical Express.

Oeiras, 22/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita


INDIELÂNDIA – VI

Se grupo houve que me tivesse deliciado os sentidos, no início da década de 80, foram os Girls At Our Best que, na sua meteórica existência, nos legaram como herança, em minha opinião, um conjunto de discos de excelente recorte sonoro e um estilo personalizado que os distinguiu de qualquer outro grupo da época.
James Alan, Gerald Swift e a estudante de arte Judy Evans, formaram, em 1979, na cidade inglesa de Leeds, os Butterflies. Com a inclusão de Chris Oldroyd, em 1980, o grupo passou a denominar-se Girls At Our Best, nome extraído da composição “Warm Girls” que apareceu na primeira gravação do grupo, no mesmo ano.
Sonoramente, os temas do grupo eram uma espécie de compromisso entre o Punk, o Pop e a crítica política, visível no tema “Politics”, em que o estilo das campanhas políticas Estado Unidenses, era satiricamente criticado.
Os Girls At Our Best desfizeram-se em 1982.
Segue-se, como é habitual, a discografia do grupo e das editoras independentes, para as quais gravaram os seus discos:

Record Records:
Abril de 1980 – 7” – Getting Nowhere Fast/Warm Girls
Novembro de 1980 – 7” – Politics/It´s Fashion

Happy Birthday Records:
Junho de 1981 – 7” – Go For Gold/I´m Beautiful Now
Outubro de 1981 – LP – Pleasure
Outubro de 1981 – 7” – Fastboy Friends/This train

God Records.
Maio de 1982 – 7” – Heaven/ £600.000

Oeiras, 28/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita



INDIELÂNDIA – VII

“Tudo é político, tudo o que se faz na vida, a forma como as pessoas se relacionam entre si é político”, afirmou Lesley Woods, vocalista e letrista, do grupo Au Pairs, à East Village Eye.
O grupo inglês Au Pairs formou-se, em 1979, na cidade de Birmingham, por Lesley Woods, Paul Foad, Jane Munro e Pete Hammond. Musicalmente, o grupo aliava, a uma certa dose de experimentalismo sonoro, as influências musicais do Ska, do Reggae e da Pop. As letras de Lesley Woods eram consideradas provocativas no modo como perspectivavam o feminismo, quanto ao género e quanto à sexualidade. “You´re equal but different” é uma das expressões que se pode ouvir numa das suas melhores composições “It´s Obvious”, o que exemplifica, claramente, a faceta de Lesley Woods na construção das suas letras.
Como é habitual, segue-se a discografia dos Au Pairs e das editoras independentes por onde passaram.

021:
1980 – 7” – You/Domestic Departure/Kerb Crawler.
Novembro de 1980 – 7” – It´s Obvious/Diet

Human:
Abril de 1981 – LP – Playing With a Different Sex
Julho de 1981 – 7” – Inconvenience/Pretty Boys

Kamera:
Agosto de 1982 – LP – Sense and Sensuality.

Os Au Pairs é um dos meus grupos preferidos da Indielândia, com destaques para o já referido “It´s Obvious” e para o LP “Playing With a Different Sex” que inclui uma versão alargada do “It´s Obvious”.

Oeiras, 07/11/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Moinho das Antas, 10/01/2010 - Jorge Brasil Mesquita - 12H02

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